Petrobras bate recorde de produção de combustível, mas dependência externa perdura
Refinarias estatais operaram a 97% de sua capacidade em agosto, mês em que o diesel subiu 8%
A Petrobras atingiu em agosto um novo recorde na produção de combustíveis. Suas refinarias operaram no mês passado a 97,3% de sua capacidade total, marca que não era alcançada desde dezembro de 2014. A produção de diesel chegou a 3,78 bilhões de litros, a maior do ano.
Isso, porém, não foi suficiente para beneficiar diretamente o consumidor brasileiro. Também em agosto, de acordo com dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço do diesel subiu 8,54% no país. A gasolina, por sua vez, subiu outros 1,24% – em julho, já havia subido 4,75%.
Desde julho os combustíveis mantêm uma tendência de alta, de acordo com o IBGE. Caíram em maio e junho, depois que a Petrobras anunciou a desvinculação de seus preços com os preços do mercado externo – o chamado Preço de Paridade de Importação (PPI). Depois, porém, subiram com a volta de cobranças de impostos sobre eles e também por conta de um reajuste anunciado pela estatal em agosto.
O reajuste, na época, ocorreu por conta do aumento do preço do petróleo no mercado internacional. Mostrou que, apesar do fim do PPI, a Petrobras seguirá levando em conta o mercado internacional para definir seus preços. Isso porque, mesmo com a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de "abrasileirar" os preços dos combustíveis, o país ainda não é autossuficiente, principalmente em diesel. Assim, continuará importando o combustível até conseguir aumentar sua capacidade de refino.
"O barateamento dos preços dos combustíveis passa pela redução da dependência de importações de derivados do petróleo", afirmou Mahatma dos Santos, um dos diretores técnicos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep). "Isso dependerá de investimentos na expansão de nossa capacidade produtiva e melhora da eficiência do nosso parque de refino."
Dos Santos disse que esses investimentos dependem da Petrobras. Segundo ele, o setor privado não o faz. Só comprou refinarias que a estatal colocou à venda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) –vendas, aliás, que o novo governo já disse serem condenáveis. A privatização, porém, não aumenta a capacidade de refino nacional. Apenas transfere o controle da refinaria do governo para empresários, que tendem inclusive a vender combustíveis a preços acima da Petrobras.
Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social do Petróleo (OSP), reforçou a importância dos investimentos da Petrobras no refino, ratificando que as refinarias privadas vendem gasolina 7,5% mais caras que Petrobras e diesel 13,4% mais caro que o estatal. Ele lembrou que há projetos para expansão da Refinaria de Paulínia (Replan), no estado de São Paulo, e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca (PE), mas que eles não devem ser concluídos em um curto prazo.
O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), chegou a falar da recompra de uma refinaria privatizada na Bahia, mas não há nada concreto sobre o assunto.
Por isso, ele diz, alternativas precisam ser avaliadas visando a redução da dependência da importação e, por consequência, a queda nos preços.
"O aumento da mistura do biodiesel no diesel, além de diminuir a emissão de gases do efeito estufa, também diminui a necessidade de importação. Assim como o desenvolvimento de novos tipos de combustíveis com fontes renováveis, como o Diesel R e o biodiesel", disse Dantas.
Petrobras foca na estabilização
A Petrobras tem hoje dez refinarias. Disse que foca na expansão de sua produção para "amortecer a volatilidade de preços do mercado externo", mas já confirmou em comunicados anteriores que o preço internacional ainda é considerado pela empresa para calcular eventuais reajustes.
Em maio, as refinarias da estatal já haviam trabalhado a 95% de sua capacidade. Anos atrás, durante a vigência do PPI, esse percentual caiu a menos de 70%.
Gil Dantas afirmou que, apesar da retomada da produção interna, o preço do petróleo subiu no mundo, o que pressionou os preços por aqui. Um barril custava em torno de 75 dólares em maio. Hoje, já custa 90 dólares, e deve ficar neste patamar nos próximos meses por conta dos cortes de produção na Arábia Saudita e na Rússia.
Nesse mesmo intervalo de tempo, foi retomada a cobrança de impostos federais sobre a gasolina. A cobrança do imposto estadual também mudou. Isso, segundo ele, elevou o preço do combustível em cerca de R$ 0,57 por litro em todo país. Contribuiu, assim, para que seu preço passasse R$ 5,46 em meados de maio para R$ 5,86 hoje. O litro do diesel subiu dos mesmos R$ 5,46 para R$ 6,18.
"No caso do diesel, houve uma expansão da margem bruta de lucro de distribuidores e revendedores. Isso teve um impacto direto na elevação do preço, sobretudo a partir de julho e agosto", acrescentou dos Santos, listando as causas dos aumentos recentes do combustível.
Ainda segundo dos Santos, principalmente no caso do diesel, as refinarias privadas seguem praticando preços muito acima da Petrobras, o que impacta no preço médio nacional.
O presidente da Associação Brasileira de Refino Privado (Refina Brasil), Evaristo Pinheiro, afirmou ao Brasil de Fato neste mês que as refinarias privadas têm condição de fornecer combustíveis a preços compatíveis com os da Petrobras se, entre outras coisas, a estatal passar a fornecer a elas petróleo a preço semelhante ao repassado às suas refinarias.
A Petrobras já sugeriu que as refinarias privadas busquem petróleo em outros fornecedores.
Fonte: Brasil de Fato
Texto: Vinicius Konchinski
Edição: Thalita Pires